Intel Inside? Talvez não!
- Pedro Sousa
- 13 de abr. de 2021
- 4 min de leitura
Gamers, preparem-se! O tradicional autocolante que nos habituamos a ver em essencialmente todos os computadores (afinal, no pico de utilização os produtos Intel representavam 90% do mercado) poderá estar ameaçado.
Melhor dizendo: a Intel está sob uma ameaça tão grande que poderá ter de mudar de rumo completamente.
Para entender melhor o que são os fatores que ameaçam verdadeiramente este gigante tecnológico temos de entender, antes, dois conceitos fundamentais de como funcionam os nossos dispositivos eletrónicos: Arquitetura e Processo.
Ainda que pareçam dois termos vagos e não relacionados, há que, primeiramente, entender que todos - TODOS - os dispositivos eletrónicos funcionam mais ou menos da mesma forma. E no coração desse funcionamento está algo chamado CPU. CPU, ou Unidade Central de Processamento, em português, é o centro de todas as atividades de um dispositivo.
As ações necessárias ao funcionamento são - processadas - adivinhaste, neste elemento. Mas então, como é que isso funciona e o que tem a ver com “arquitetura”?
Um CPU é, essencialmente, um interruptor, tal como aqueles que usamos para ligar e desligar as luzes, apenas muito mais complexo. Para todos os efeitos, um CPU é um conjunto de portas lógicas, ou circuitos que podem ser abertos ou fechados com eletricidade e produzir dois valores alternativos (0 e 1), na linguagem que é o binário.
A combinação de milhões (no caso dos CPU’s modernos, vários milhares de milhão) de portas lógicas - ou transístores - permitem realizar tantas operações por segundo que por vezes mal conseguimos acompanhar a velocidade dos nossos gadgets. São teraflop’s a mais!
Isto dito, existem dois fatores cruciais para a performance de qualquer CPU:
A “arquitetura” de um processador pode ser entendida como o manual de instruções do CPU. Ainda que a comparação seja feita, não nos podemos esquecer que um processador não é um cérebro - não pensa - mas consegue realizar tarefas que lhe são dadas com extrema precisão muito, Muito rápido. A arquitetura são essas mesmas instruções.
Existem dois tipos: CISC (Complete Instruction Set Computer) e RISC (Reduced Instruction Set Computer). Tradicionalmente o mais complexo, o primeiro, é entendido como um conjunto de instruções maduro e robusto, pronto para a aplicação em computadores de secretária, portáteis de elevado rendimento… máquinas para “trabalhar”. RISC, por outro lado, era visto como valioso pela sua simplicidade, e, tendo em conta que os CPU funcionam na base de instruções por ciclo (daí os GHz que o gaming adora - mais GHz mais ciclos por segundo!), RISC era visto como ótimo para processadores móveis - menos poderosos mas imbatíveis em longevidade de bateria.
Simplificado, a Intel e AMD usam um conjunto RISC de instruções, o x86-64, desenvolvido entre ambas, e os processadores de telemóvel usam uma ou outra versão modificada de ARM V8, um conjunto de instruções CISC.
Falando agora do processo. Em essência, e extremamente simplificado, o processo no qual um processador - ou melhor - os transístores de um processador podem ser fabricados são o seu tamanho. Por lógica, se quisermos encher uma parede de interruptores para fazerem operações por nós, só temos duas hipóteses quando a parede encher: aumentar a parede ou reduzir os transístores. O “aumento da parede” pode ser visto em processadores como Threadripper e Epyc da AMD, que usam uma combinação de duas “paredes” para aumentar o poder efetivo de computação.
Ou então, diminui-se o “processo”. Isto significa fazer os transístores (as portas lógicas de que falamos) cada vez mais pequenas. E quando digo pequenas digo milhões de vezes menores que cabelo humano. 2021 projeta trazer um processo de 3nm (nanómetros, 1 milhar de milhão de vezes inferior ao metro) da fundição da TSMC (Taiwan SemiConductors). Esta diminuição efetiva do tamanho das portas lógicas permite a redução de consumo de energia por porta, e, por consequência, diminuição do consumo de energia por ciclo de operações lógicas.
O que tem isso a ver com a Intel? A Intel afirmou em 2014, no seu “RoadMap” de investimento e inovação a transição em 2016 de 14 para 10nm, com uma transição até 2020 de 10 para 7nm.
Para seu crédito, a densidade de transistores da Intel é líder de mercado, o que significa que em performance, 14 nm de Intel equivale a 10 nm de AMD ou Apple. Mas há um problema. A AMD vai em 7nm e a Apple em 5nm, com exclusividade absoluta na produção de 3nm da TSMC durante um ano.
Vamos então juntar as peças. X86-64 é uma arquitetura exigente e que consome muita energia, e cria muito calor por efeito. Por outro lado, a ineficiência na transição para 10nm por parte da Intel (com um atraso que já leva cinco anos) deixa os consumidores, sobretudo no desktop, sem opções que não sejam tentativas de resolver problemas de processo aumentando a velocidade e número de núcleos de processamento. Não só isso, a AMD consegui dar o salto de inovação, não só com 10 e agora 7nm, mas também tecnologias como hyperfabric.
E talvez o prego que ameaça fechar o caixão proverbial.
Não podemos deixar de falar da Apple o dos processadores M1.
Se a Intel vive em processos desatualizados e arquiteturas complexas, M1 é o seu oposto. Usando uma versão altamente modificada de ARM V8, uma arquitetura RISC, e 5nm no processo de fundição, a otimização conseguida por estes processadores permite - ainda que com as limitações esperadas de ARM V8 e tecnologia “de primeira geração” obter performance superior a Intel usando, por vezes, três vezes menos energia.
O desnível de performance é tão acentuado que a maioria das comparações - e até algumas críticas de M1 - são feitas contra CPU’s de topo de linha da Intel, quando M1 foi desenhado para o mínimo dos mínimos da oferta computacional da Apple.
Neste momento, sabemos que a Intel contratou o “Mac Guy” para uma campanha de ataque e na semana seguinte propôs uma parceria de desenvolvimento à Apple, e estamos por aí.
E para responder à pergunta que todos têm: “But can it game?”
Não, não comprem Macs para jogos! Isso não mudou.
Mas comprem AMD, se conseguirem encontrar!

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