Neste período particularmente perturbado da História, um resumo - escrito para investigadores - mas do qual podemos todos tirar reflexão.
Ethos\
A ética, quando num vácuo passível de escrutínio, apropriadamente, como ramo da filosofia, apresenta-se como uma disciplina de catarse, àquela a qual respondem, por meio de análise, todos as ações e disciplinas humanas. Ainda que por jugo histórico tendamos a separar a ética e a moral, ainda que uma analítica e a outra intrínseca, ambas são manifestações do mesmo princípio. Aquele de que, por dádiva divina ou esmero mortal, o ser humano possuí em si um fio condutor transversal e intemporal que lhe permite a distinção morfológica entre aquilo que está certo e o que está errado. Contudo, a ideia da imutabilidade não poderia ser mais falsa e a ética e a moral são conceitos fluidos, transmutáveis e transmissíveis. É sob a ótica de um fenómeno progressivo e analítico, não diferente da avaliação progressiva do conhecimento de uma área científica, que se constrói a ética.
Para os termos práticos que devem ser considerados na análise da prática moralística da investigação educacional (e, em verdade, da investigação social), devemos começar por dividir as questões éticas em dois grandes parâmetros, passiveis de aplicar a qualquer esforço investigativo, e que servirão de base a este breve resumo (Cohen, Manion et al. 2007).
Em primeiro lugar, o moralismo da investigação per se, e o moralismo da análise conduzida aos resultados obtidos. Quando falamos da conduta ética à própria prática investigativa, sobretudo na análise ao estudo de fenómenos sociais, a boa-conduta rege-se, sobretudo, pelas garantias prestadas ao objeto de estudo (indivíduos cientes, no caso) de que os seus direitos fundamentais enquanto entidades serão preservados. O epíteto do dever ético perante um ser humano, como sabemos, passa pela Declaração Universal dos Direitos do Homem. Ponto de partida essencial é a garantia de que o investigador jamais porá em causa qualquer desses pontos fundamentais. Exemplo fulcral de tal, será a imperativa necessidade de que o processo de investigação não interfira com o normal e aceite progresso do desenvolvimento de uma criança, quando o alvo de estudo são as mesmas.
A acrescentar a esse passo basilar, acrescentam-se práticas essenciais que se transportam, essencialmente, para a garantia de que os indivíduos têm poder sobre a informação. E entenda-se informação nas suas várias facetas, tanto o consentimento informado (a obtenção de informação), como o direito à obscuridade que inclui a capacidade dos alvos de estudo de controlarem a quantidade, acesso, e rastreabilidade da informação que, na figura de pessoas humanas, lhes é conferida.
Refira-se também a prática moralística que é expectável do investigador e que, devido à negação de tal na vida quotidiana, pode permanecer esquecida: o estabelecimento de relações interpessoais ou por demais académicas ou contratuais entre o investigador e o alvo do seu estudo, poderá jamais ser uma afirmação de poder, ou, por sinal, causar um distúrbio na ordem e organização das dinâmicas de poder no contexto socioeconómico e cultural do qual o investigador se insere por via do seu estudo.
Finalmente, há que tomar especial consideração pela ordem ética que rege a análise a ser feita de determinado conjunto de dados recolhidos por meio experimental. Ainda que categoricamente válidos, o investigador tem o dever ético, sobretudo se frente a frente com uma análise a uma realidade por demais diferente da sua, ou na qual realizou pesquisa determinante sobre fatores socioculturais, de, como imperativo categórico, se restringir em absoluto à imputação dos dados de qualquer tipo de perspetiva forçada, seja ela por preconceito ou idée fixes que possam falsear ou corromper a análise num sentido xenófobo (em todas as suas vertentes: racismo, misoginia, elitismo etc.).
Por consequência deste procedimento moralístico na análise, derivam todos os procedimentos moralísticos da partilha, integridade, justiça etc. para com os participantes.
Afinal, os categóricos éticos demonstram que se uma relação for vista sem preconceito e em situação de igualdade entre entidades na análise do seu poder relativo no espaço que coabitam, os formalismos e condutas do respeito “social” são sempre verificáveis.
Pedro Sousa
Bibliografia: Cohen, L., et al. (2007). Research Methods in Education. USA; Canada, Reutledge.
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